Egisto Dal Santo, um sujeito underground

FOTO: LUÍS VIEIRA

Susi Tesch

Egisto Dal Santo Júnior, nasceu em Soledade, no Rio Grande do Sul, em 25 de julho de 1964. Filho de Egisto Dal Santo e Diony Anunciação Serrano Dal Santo. Também conhecido como Egisto Ophodge ou Egisto 2 é um músico multi-instrumentista, cantor, compositor, produtor cultural, produtor fonográfico e escritor.

Atualmente possui três projetos musicais, O primeiro, Egisto Dal Santo Exp, é um trabalho solo com canções próprias e releituras da MPB ao rock internacional. A formação da banda que o acompanha varia de acordo com o dia, vários músicos participam dessa experiência. Para o público é sempre uma expectativa, uma surpresa, com quais instrumentos Egisto tocará e quais músicos que o acompanharão no show.

Desde 2001, também atua com a banda Histórias do Rock Gaúcho, fazendo uma releitura e resgatando os clássicos desde os anos 60. Egisto, na voz, guitarra, teclado e bandolim; Gambona, na guitarra; Gugu Mendes, no baixo e Paulo Aquari na bateria e participações. Durante os shows, os integrantes da banda contam algumas histórias secretas do rock gaúcho, partilhando experiências deles com grandes figurinhas carimbadas. Em 2005, Egisto lançou seu primeiro álbum Volume 1: Estradas e, em 2011, Volume 2: Esquinas

Participa também do show Tributo a Bebeco Garcia, com o Bando dos Ciganos, justamente o grupo que acompanhava o músico Bebeco, interpretando seu repertório com devoção. Dessa forma, eles mantêm a memória do artista, sem ser uma banda cover e, sim, a banda que acompanhou o artista em sua carreira solo.

FOTO: ADROALDO CASTRO

Bandas

A carreira de Egisto iniciou em 1981 em Soledade, interior do Rio Grande do Sul. Nos dois anos seguintes tocou com a banda Ponto de Vista em São Leopoldo. Em 1983 passou um período em São Paulo, retornando em 1984 e se radicando em Porto Alegre.  Em 1987, fundava a banda Colarinhos Caóticos. Nesse percurso, cruzou várias gerações do rock gaúcho, se envolvendo em mais 50 projetos musicais. Tocou ao lado de vários artistas como Edu K, Charles Masters, Bebeco Garcia, Jimi Joe, Julio Reny, Frank Jorge, Carlo Pianta, Beltrão Vanini, Mitch Marini, Fábio Ly, Bebeto Mohr e Iben Ribeiro, entre outros.

Com quatro décadas de estrada no rock, foram muitas bandas como a Colarinhos Caóticos, uma banda independente de rock alternativo “pretensamente de vanguarda”, diz. A banda reunia Egisto na voz, guitarra e pedais; Beltrão Vanini (baixo e voz), Álvaro Godolphin, no sax alto e tenor e Leandro Aragão, na bateria.

Uma das músicas dos Colarinhos que se destacou foi a versão de “Deu pra Ti”, no disco Agora pode ser o tempo todo, de 1996, onde Kleiton e Kledir assinaram a releitura junto com o Egisto. A música mostra uma versão atualizada de Porto Alegre dos anos 90, desde a muvuca pelas ruas do bairro Bom Fim ao atraque no Bar do João. 

Outras bandas que não existem mais, mas que fizeram parte da trajetória de Egisto, são a Elektra, Groo Brothers, Ponto de Vista, Cretinice Me Atrai, Benedyct Eskine, Saltin Mantra, Sid Barreto, Afilhados do Sereno, Ventania, Banda Sem Nome, Spaceqüeras, entre outras.

FOTO: LUÍS VIEIRA

Influências musicais

Como compositor, Egisto tenta fazer um som diferente daquilo que todos conhecem, busca uma identidade sem nenhuma influência muito expressiva. Para ele, o fundamental é a criação de uma obra particular. A música brasileira acaba sendo a que mais predomina nas suas composições, já que o artista considera seu repertório bem brasileiro: Mutantes, Arnaldo Baptista, o rock brasileiro dos anos 1970, a conhecida música popular gaúcha da década de 70 e início dos 80, o Tropicalismo, Caetano Veloso e Chico Buarque. E, claro, a escuta dos clássicos The Crimson, Led Zeppelin, Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan. Do blues à soul music, passando pelo jazz, Egisto procura tirar de cada estética algum ponto, algo que possa acrescentar na sua música, em sua arte, em seu trabalho de criação e arranjos. 

Notas de Viagens, aventuras e desventuras no rock gaúcho

Em 2008, Egisto lançou o livro Notas de Viagens, aventuras e desventuras no rock gaúcho na Feira do Livro, em Porto Alegre. Foram dois anos dedicados a essa edição que reúne histórias e registros importantes de sua carreira, incluindo aí os músicos referenciais que tocaram com ele. O livro traça o cenário do rock gaúcho com uma linguagem simples, como se o leitor fosse um amigo, um velho conhecido, que é convidado a acompanhar as aventuras de Egisto. 

O autor relembra de muitas pessoas, das grandes amizades, assim como das desavenças, dos rompimentos, dos inimigos, a decadência que acometeu o cenário do rock gaúcho e nacional. O texto é uma espécie de exercício de filosofia, uma reflexão sobre determinadas vivências no cenário cultural do rock.

Egisto pensa em lançar outro livro futuramente. Está com vários projetos em andamento, ainda sigilosos.

O produtor fonográfico

Egisto começou a atuar como produtor fonográfico no final dos anos 1980, sendo um dos pioneiros na produção musical no sul do país. Encarou esse desafio por pura necessidade, já que não havia produtores em Porto Alegre. Na sua perspectiva, as bandas locais eram simplesmente submissas ao técnico de estúdio, o que resultava numa sonoridade sempre semelhante, enlatada e falseada. Foi, então, em busca de ambiência para seus discos, uma espécie de sonoridade em formato antigo que recuperava a fidelidade sonora dos instrumentos e equipamentos. Com isso, aproximava o disco gravado em estúdio da ambiência de um show. No início, justamente por essa busca de ambiência, era considerado louco pelo meio artístico. “Essa ambiência é a gravação do deslocamento do ar entre o amplificador e o microfone, aquele microssegundo, por exemplo. Em shows há esse deslocamento de ar”, explica o músico.

Em seu trabalho como produtor, procura não se intrometer nem influenciar muito na banda, investindo em cada faixa, “afinal a música tem que ser solta”, comenta. Nesse sentido, defende que é o músico quem determina a duração da música e que não se pode ficar preso ao tempo curto do formato comercial das rádios. “A canção é como um quadro. Um quadro tem que ser inteiro. Não pode depender dos outros quadros da exposição. Tem que ser uma obra prima sozinho.” compara Egisto. “Quando se entra no estúdio com músicos e bons equipamentos, isso é produção. A produção nem precisa fazer muito, somente não atrapalhar os músicos”.

Para o produtor, Led Zeppelin foi a banda mais equalizada, aquela que encontrou o melhor som do mundo. “Melhor som de bateria, melhor caixa, melhor bumbo. Um baixista com os timbres absurdos, o guitarrista inventou uma cascata de guitarras, uma orquestra de guitarras maravilhosa e só o Robert Plant pra cantar daquele jeito”, descreve ele.

Além do seu trabalho como músico, Egisto produziu também diversas bandas reconhecidas como Júpiter Maçã, Tequila Baby, Charles Master, Cowboys Espirituais, Bebeco Garcia, Graforréia Xilarmônica, Oly Jr., entre outras. Também teve as coletâneas Ipanema 15 mais e Baladas do Bom Fim, revisitando a obra de Nei Lisboa e o programa Segunda sem Ley.

A coletânea Ipanema 15 mais, lançada em 1998, foi uma iniciativa para retomar bandas que não tocavam mais nas emissoras, devido ao enfraquecimento do rock gaúcho naquele momento. Em parceria com a gravadora Acit e rádio Ipanema FM, o lançamento foi no bar Opinião, teve fila e muita gente ficou fora do bar lotado.

Antes, o disco Segunda sem Ley (1995) teve seu lançamento no programa Homônimo da rádio Pop Rock, com os integrantes da banda e o diretor da rádio Mauro Borba.

FOTO: ADRIANA FRANCIOSI – ZERO HORA – ARQUIVO PESSOAL EGISTO | LANÇAMENTO DO DISCO SEGUNDA SEM LEY

Bebeco Garcia e o Bando dos Ciganos

Egisto lembra que uma das melhores sonoridades produzidas de dentro de um estúdio foi com o músico Bebeco Garcia, ex-integrante da banda Garotos da Rua no álbum Me Chamam Curto Circuito. Foi o primeiro álbum solo do artista, produzido por Egisto que o define como o disco mais rápido do mundo, 24 horas para gravar e 24 horas para mixar. “Disco com som muito puro, os músicos eram muito bons e sabiam o que queriam”.

Durante a produção, Egisto acabou por assumir o baixo, mesmo sem conhecer os parceiros, imprevisto que acabou dando certo após a saída do baixista do grupo. A seguir, Egisto seguiu com Bebeco e o Bando dos Ciganos até 2009.

Nessa trajetória, produziu também Bebeco Garcia ao vivo junto com seu irmão Mario Dal Santo, também produtor fonográfico.

Egisto planeja lançar um disco chamado Paris Hotel, reunindo somente músicas de Bebeco, algumas delas resultantes da parceria entre ambos e ainda inéditas.

Histórias do rock gaúcho

Egisto conta que, em certa ocasião, às vésperas de um show no Rio de Janeiro, Alda, esposa do Bebeco à época e que era uma super cozinheira, preparou um bobó de legumes para ele, o que acabou provocando ciúmes no marido. Bebeco ficou indignado com a atenção da esposa ao amigo e, em protesto, foi comer no centro da cidade, algo que nunca fazia. Acabou por comer um acarajé envenenado e, como consequência, passou mal à noite, justo na hora do show. Como o evento não poderia ser cancelado, Bebeco, sentindo-se mal, dividiu o vocal com Egisto. Foi a primeira vez que ele cantou as músicas do amigo, cantou durante todo o show, tocando também o baixo. Outro improviso que deixou Egisto bem mais seguro para interpretar esse repertório e seguir, posteriormente, com o tributo à memória do Bebeco.  

Premiações

Ao longo de sua carreira, Egisto foi reconhecido com vários prêmios. Ganhou quatro vezes o Prêmio Açorianos de Música, da Prefeitura de Porto Alegre: melhor letrista em 1994, agitador cultural em 1998, produtor Musical em 2001 e, indiretamente, pela categoria disco de 2000 com a produção do álbum Me Chamam Curto Circuito do Bebeco Garcia e banda.

Junto com a Colarinhos Caóticos, recebeu o segundo lugar do prêmio da revista BIS de banda revelação de 1989, ficando atrás de Ed Motta. Porém, como Ed Motta havia ganhado essa mesma categoria no ano anterior e não faria sentido ser revelação duas vezes na vida, os Colarinhos Caóticos foram considerados os vencedores com direito a tocar na festa do prêmio no AeroAnta, em São Paulo.

Transe  

Transe é o último álbum solo lançado, no final de 2021, pelos selos Encostoh e Purnada Ypranada. Egisto reuniu os músicos Bebeto Mohr, na bateria; e Vini Tonello no teclado e piano; Franco Salvadoretti, na flauta e Cesar Moraes na guitarra base.

As treze faixas do disco contam com a participação de Maria Luiza Benitez e Tonho Crocco, no vocal; Pedro Tagliani, James Liberato e Gabriel Guedes na guitarra; Luiz Carlos Borges, no acordeon; Caio Maurente, no baixo; Luiz Mauro Filho, no piano; Claudio Calcanhotto e De Santana na percussão.

A letra de “Sol e seca”, faixa número oito do disco, foi uma parceria com Antônio Augusto Fagundes Filho.